sexta-feira, 13 de julho de 2012

Epopéia de uma Sexta Feira 13 nos Aeroportos do Rio


Artur Pedro Souza, arquiteto
Uma noite feliz de quinta-feira, 12 de julho de 2012, voo de Brasília para o Rio (Santos Dumont), motivo: fazer exame admissional e levar a documentação para uma empresa no Rio, pela qual estou sendo contratado. O voo que parecia ser a viagem da concretização dos meus sonhos, do retorno à minha cidade maravilhosa, depois de 9 anos de Brasília, se transformou num pesadelo dos aeroportos do Rio.


Até o embarque no Aeroporto JK, tudo normal, nenhuma notícia de anormalidade pela voz do aeroporto nem pelo "pessoal de terra" da Webjet, companhia do meu voo. Após esperar algum tempo no saguão, o embarque se deu normalmente, no horário previsto, pouco antes do horário normal do voo, 21 h. Mal sabia o inferno que estava por vir. Embarcamos, todos acomodados, portas em automático, vamos embora... Que nada, doce ilusão...


Ai começou a novela, após uns 20 minutos parados no mesmo local, o comandante anuncia: "devido a um forte temporal que cai no Rio de Janeiro neste momento, o aeroporto Santos Dumont encontra-se fechado para pousos e decolagens, estamos aguardando novas notícias, mas é grande a possibilidade de sermos deslocados para pouso no aeroporto internacional do Galeão". Todos franziram a testa, se reajeitaram na cadeira "muitíssimo" confortável da Webjet, que nem reclinar, reclina, e começa o chá de paciência.


Meia hora depois, novo aviso do comandante: "más notícias senhores passageiros, o temporal no Rio está pior, o Santos Dumont permanece fechado para pousos e decolagens e agora também o Galeão encontra-se fechado" Que maravilha, tudo que queríamos ouvir naquele momento. Segue o ritual de paciência, fecho os olhos, tento tirar um cochilo, sem sucesso na posição vertical da "muitíssimo" confortável cadeira da Webjet. Mais meia hora se passa e novo aporte do comandante: "dessa vez trago boas notícias, o Santos Dumont abriu para pousos e decolagens, o temporal passou e dentro de alguns minutos iremos partir, para o aeroporto Santos Dumont". Maravilha era a notícia que todos queriam ouvir, soou como música nos ouvidos já impacientes dos passageiros. Os alguns minutos foram muitos e quase meia hora depois decolamos, enfim, rumo à Cidade Maravilhosa. Decolamos às 22: 30 h. Já havia se passado 1 h e 40 min do nosso embarque. O grande detalhe, nada fora noticiado antes do embarque.


Durante o voo, tudo tranquilo, nas 1 hora e 20 min normais de Brasília para o Rio, nem na descida, que achei que pegaríamos resquícios do temporal de mais cedo, nada, pouquíssima turbulência. Não seria mais tranquilo por uma notícia vinda do comandante lá pela segunda metade do voo: "senhores passageiros, o aeroporto Santos Dumont somente irá operar até as 23:30 h e nossa previsão de chegada ao Rio é às 23:45 h, portanto teremos de descer no Galeão, e já informo que embora nosso pouso esteja autorizado, o pátio está completamente lotado e teremos de aguardar bastante pois há vários voos na nossa frente para desembarcar, precisaremos ter paciência".


Eu só não imaginava quanta paciência seria necessária. Nem eu, nem os passageiros daquele voo lotado. Pousamos às 00:05 h e ai se iniciava a grande espera da noite, o grande e principal show da noite, o show da incompetência da Infraero, juntamente com a Webjet, que mostraram todo o despreparo do Brasil em seus aeroportos, às vésperas do maior evento esportivo mundial. O Santos Dumont, que normalmente opera até às 23 h, apenas, eu disse apenas, estendeu seu atendimento em meia horinha, ora, "não podemos trabalhar mais do que meia hora a mais, já trabalhamos demais por hoje, porque estender mais o horário de pousos? Deixa que o Galeão se vira". Parecia ser essa a voz que todos os passageiros que pousavam no Galeão ouviam em seus ouvidos. E olha que eram muitos passageiros, de muitos voos, de muitos lugares. No primeiro local em que ficamos "estacionados" por cerca de 40 min, não dava pra ver a situação do pátio do Galeão e ficávamos à mercê de notícias vindas do comandante.


A impaciência dos passageiros ia ganhando forças, as pessoas começavam a fazer amizades, conversar e se apoiarem umas às outras nesse momento difícil e impaciente. O comandante dá novamente o ar da graça e brada: "pedimos a todos que se mantenham sentados com seus cintos afivelados, peço que tenham paciência, e informo que existem muitos aviões na nossa frente, para estacionar e não temos previsão de parada final da aeronave, conforme nos foi passado pela torre". Foi a gota d'água para a impaciência dos passageiros começar a se transformar em revolta. Muitos começaram a bradar gritos de "eu quero ir pra casa", "vamos embora piloto" e por ai vai. Alguns mais exaltados começavam a bater nas paredes e no teto do avião, como que estivessem num trem vindo do Engenhão na final do campeonato. A comissária pedia paciência e explicava que a culpa não era deles. Em parte, ela até estava certa. Mas a Webjet cometeu dois grandes erros nesse voo. Embarcou os passageiros num voo que ela sabia que era fadado ao fracasso e ao inferno. Somente os passageiros não sabiam o pesadelo que nos aguardava, porém todo o pessoal da companhia, em Brasília, estava ciente da confusão que estava nos aeroportos do Rio, digo isso porque fui alertado pela atendente da companhia sobre uma "confusão" logo no check in. Achei que a confusão era no embarque, mas não, era no Rio. Mas e o que fizeram, embarcaram mesmo assim, seus passageiros como se nada estivesse acontecendo. Sabiam a "fria" em que estavam nos metendo e mesmo assim prosseguiram com esse ato insano. Nos meteram na "fria" e pareciam não querer nos tirar dela. O outro grande erro da Webjet foi não servir nenhuma alimentação para os passageiros em quase 5 horas e meia de voo. Nem sequer uma água ou café ofereceram. Apenas serviam água para os passageiros que pediam quase suplicando: "um copo d'água por favor". Um absurdo em meio ao caos. Durante o voo, passaram aquele cardápio que perece vir de um restaurante no Alto Leblon, com o preço surreal de R$ 24,00 por um sanduiche com refrigerante e um chocolate, quase o dobro de um lanche na maioria dos fast foods por ai. O cardápio ainda se intitula com a quase irônica frase: "vamos comer algo?" Pense numa raiva que dava olhar essa frase no cardápio a cada hora que passava.


E continuávamos lá parados no pátio do Galeão. E de vez em quando a voz quase grosseira da comissária dizia: "para sua segurança, permaneçam sentados com cintos de segurança afivelados". A essa altura do campeonato, já estavam muitos levantando, ficando no corredor da aeronave, outros apenas em pé, recostados nas suas "confortáveis" cadeiras. Foi nessa hora que o avião andou um pouco e o comandante, parecendo querer "acomodar todos nos seus assentos de volta" deu uma freada brusca, sacolejando a todos e aumentando em muito, a revolta dos passageiros que começaram a bradar gritos de: "tá de sacanagem piloto, aqui tem gente, não animais". O clima estava ficando tenso dentro da aeronave. Alguns falavam em tom de brincadeira: "vamos quebrar tudo" num claro momento de desabafo, mas ali, todos eram pessoas civilizadas e pacatas e o máximo que fizeram foi reclamar com a comissária ao sair da aeronave.


Bem, já eram 2 horas da manhã quando o comandante enfim conseguiu um local para estacionar o avião e desembarcar passageiros e malas. Todos bateram palmas, gritando: "eu não acredito" como que imitando o ídolo Ayrton Senna ao ganhar a corrida em Interlagos pela primeira vez.  Ai veio o penúltimo pesadelo da noite, sair do avião. Algo que parece tão simples se tornou mais um caos, por mais um despreparo da Infraero. Não havia ônibus suficientes para desembarcar todos os aviões que estavam pousados no Galeão. O avião se encontrava muito distante do saguão do aeroporto. Então, o "descarrego" dos passageiros começou a ser feito em uma Kombi da Webjet, que pegava cerca de 5 passageiros por vez. E ai já viu né, começou o caos do desembarque. De 5 em 5, as pessoas iam descendo da aeronave, e eles só deixavam descer quem já pegaria a Kombi. Ou seja, formou-se uma imensa fila no corredor do avião no aguardo da tão esperada Kombi que deve ter feito umas trezentas viagens do avião até o pátio. Nesse momento, eu dei graças a Deus pela única escolha certa que fiz nessa viagem, o assento nº 8. Olhei lá pra trás da aeronave e fiquei com muita pena dos passageiros que estavam nos bancos finais do avião. Provavelmente esperariam mais uma hora ali, mal acomodados, para poder enfim sair daquele pesadelo.


Peguei a tão sonhada Kombi e me dirigi ao local de retirada das bagagens. Como o desembarque estava muito demorado, todas as bagagens já esperavam anciosas por seus donos na esteira, indo e voltando, como que também pedindo pra irem pra casa. Peguei a minha mala e fui para o 3º piso, onde o pessoal da Webjet disse que haveria transporte para o Santos Dumont. Chegando lá, havia realmente um micro-ônibus e uma van, com destino ao Santos Dumont. Porém muitos passageiros decidiram lutar pelo direito de um taxi até seus destinos finais, no guichê da Webjet. Me juntei a alguns deles e fomos lutar pelos nossos direitos. Um funcionário da companhia, meio exaltado, bradava que a Webjet: "não tinha obrigação de fornecer taxi para seus passageiros, conforme legislação da ANAC" mas que eles fariam num ato de extrema bondade e caridade. Óh que meigo! Enfim, muitos contestaram que aquilo não seria um favor, e que diante daquela situação, era o mínimo que a companhia poderia fazer pelos seus passageiros, uma vez mais lembrando, que já se passavem quase 6 horas do embarque e nenhuma alimentação nos foi oferecida.


Peguei o meu voucher do taxi, e me dirigi ao 1º piso, onde saiam os taxis dessa cooperativa. Ao chegar lá, o último caos da noite, uma fila quilométrica, a qual eu não conseguia ver o início, gente gritando, discutindo, enfim, o auge do pesadelo, que me lembrou a cena do filme Titanic em seus últimos momentos. Só faltava a banda tocando jazz. Decidi não ficar naquele caos e retornei para o 3º piso, onde estavam as vans e graças ao bom Deus, uma van estava saindo naquele momento para o Santos Dumont, juntamente com mais três passageiros. Não pensei duas vezes e entrei. Enfim, uma viagem mais tranquila, do Galeão até o centro do Rio. O motorista nos deixou na Cinelândia próximo a um ponto de taxis. Eu e os outros três passageiros enfim pegamos taxis para nossas respectivas casas e às 3:30 h da manhã encerrei essa epopeia infernal, morto de cansado e tendo ainda que acordar cedo para compromissos no Rio. Moral da história: nem a Webjet e muito menos a Infraero estão preparadas para qualquer advento que ocorra na Cidade Maravilhosa. Isso parece uma piada, seria cômico se não fosse trágico. Diante de eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas que estão tão próximas de ocorrerem, uma mera chuva, aliada à incompetência das companhias aéreas e da Infraero, é capaz de transformar uma viagem de 1 h e meia em 7 h de transtornos e falta de suporte aos passageiros. Aonde vamos parar? Pelo jeito, nas pistas dos aeroportos brasileiros. Como dizia o famoso vídeo que se popularizou na web (sem trocadilhos): "Imagina quando chegar a Copa".


Artur Souza 



RAIOS DE SOLSHI

Luis Turiba

I
comer sushi
ação ninja
com os olhos
com os dedos
com as narinas

na ponta da língua
lacrimejar-se

II
lâminas de samurai
hashi de gueixa
ritual satori
kama & mesa

III
luas de enredos
bambu de bambas
sorvê-los até ficar
bêbados
em sedas
de sândalos

IV
oh sol salmão
(quão lindo)
sushi comido
em pêlo
sorrindo
shoyu meu
shoyu meu
vou buscar na barca amada
o teu i-meio

VI
bolas de neve
sóis de bonsais
paisagens Nô
jardins hai-kais

prato fêmea
...desliza
há um sorriso
de pomba-gira
na Mona Lisa
uma pitada
de raiz forte
no teu olhar
hipnotiza

VII
nenhuma alga a mais
tudo pouco & peixe cru
bolo de arroz

prato não dá pra três
ômega-sol com saquê
é par de dois